O Morro dos Vento Uivantes (1939)

Talvez o Wyler mais famoso, ao lado de Ben Hur, mas ainda que me fascine algumas decisões dele e de Greg Tolland sobre os ambientes em que se passa a história, ainda acho “Pérfida” superior e, talvez, seu melhor filme. É bom rever para perceber o quanto a parceria de Tolland com Welles fez bem a ele também – e não apenas o inverso, que é bem sabido – no que diz respeito à encenação dos atores, sua movimentação, a construção da cena em profundidade. Não que aqui isso esteja ausente – há cenas muito bem construídas, curiosamente mais na Mansão Linton do que propriamente em Wuthering Heights – mas ambos evoluem nos anos seguintes até alcançar a perfeição. Gosto muito do diálogo da câmera com os três ambientes da história: a proximidade dos atores no penhasco, ambiente mais íntimo e próximo do casal, a distância e frieza na Mansão Linton – um tipo de aproximação que seria aprimorado e atingiria seu melhor momento no cinema americano em “Pérfida”, por Tolland, e principalmente “Soberba”, de Welles, por Stanley Cortez – e o meio termo no ambiente escuro e melancólico de Wuthering Heights, ambiente bem mais explorado em diferentes cômodos e cantos.

Um dos momentos mais dolorosos do filme de Wyler é quando Linton e Cathy se afastam, após reencontrarem Heathcliff, e enquanto eles caminham para longe – ela com o rosto amargurado – a câmera faz um dolly out e se afasta da janela. É uma dupla sensação de distanciamento, ampliado ainda mais pela moldura da janela que parece estabelecer o quanto Cathy está, agora, presa tanto ao presente quanto ao passado. Resta, ao final da cena, apenas a visão do salão da casa vazio, na mesma posição em que um dia Cathy e Heatchfliff espiavam, juntos, à festa desse mundo do qual não faziam parte.

Quem não conseguir contextualizar o filme em sua época pode ter dificuldade com uma certa teatralidade excessiva até mesmo em comparação com outras obras do período, principalmente em Merle Oberon (Olivier, por outro lado, é o sólido contraponto que confere solidez ao filme) e com um certo ar de urgência que parece apressar o desenvolvimento da trama, que se espelha nos 100 minutos do filme, mas certos diálogos ainda têm uma força que transcende o tempo, muito por força do material original de Brontë, e o filme permanece bonito demais.

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