Spielberg e a lógica do ponto de vista

Bons diretores criam lógicas visuais baseadas no que acontece numa cena e no ponto de vista adotado pela câmera, a primeira variável da identificação do espectador num filme. Isso significa, basicamente, que a maneira como a câmera observa uma situação pode representar, mesmo que sem significados maiores, uma representação OU do que o diretor quer que o espectador veja daquela situação ou COMO o diretor quer que o espectador veja e SINTA determinada situação. É uma resolução que pode trazer resultados bem sutis.
Uma olhadinha rápida de duas vezes em que isso acontece em dois filmes do Spielberg, um dos maiores mestres no manejo da câmera e do enquadramento que o cinema já viu (por mais que muita gente reduza ele)

Um cineasta como Steven Spielberg sabe que o ponto de vista pelo qual a câmera vê algo pode ajudar a construir uma percepção que ajude ao espectador, mesmo sem perceber, a imergir no espírito da narrativa. Em uma cena de A LISTA DE SCHINDLER, Stern traz investidores que têm dinheiro guardado para uma reunião com Schindler. O alemão quer que eles invistam na fábrica num acordo que é bom, sobretudo, ao alemão, que quer se aproveitar da guerra para fazer fortuna.

A lógica da cena se dá a no posicionamento da câmera. Spielberg deixa a câmera do lado de fora, e parece ser uma opção não apenas técnica, de facilidade, mas ajuda o espectador a experimentar a sensação de que aquele encontro é secreto e perigoso. Nós vemos isso de fora…

É uma lógica semelhante à que ele usa em outros momentos. Em MUNIQUE, Avner é chamado para um encontro misterioso em casa. Ele é levado para fora e convidado a entrar no carro do general Zamir.

É o momento em que ele será convidado a um encontro com Golda Meir. Um encontro secreto. Com ele ainda fora, começamos a ver esse encontro já com uma posição que evidencia isso. A câmera se mantém fora do carro. É uma escolha também criativa, que também demanda um trabalho de preparação de iluminação no interior. Mas é um posicionamento que nos deixa ‘de fora”, simbolicamente, daquele encontro.

Assim como em A LISTA DE SCHINDLER, nosso PONTO DE ESCUTA é privilegiado, mas nosso PONTO DE VISTA, deixados do lado de fora, nos diz que as circunstâncias daquela conversa ocorrem em uma situação de segredo.

Atente para as escolhas em relação ao posicionamento da câmera e como ela – nosso meio de aproximação da trama – nos mostra os acontecimentos. É, também, uma maneira de o diretor representar uma ideia ou uma forma de ver determinada situação.

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