Desencanto (1946)

A epítome do amor trágico no cinema do século XX, pelo menos até o Clint se aventurar em águas semelhantes e fazer uma obra-prima ainda maior. Lean exercita aqui ensaios de certos arranjos de câmera e blocagem que acabariam se tornando frequentes posteriormente, ajudando a contar histórias com escala maior, mas não necessariamente a mesma intensidade.

Aqui o conflito e o drama parecem se condensar em uma cápsula pequena em que cada close, cada olhar, reverbera com força, um simples toque no ombro soa devastador quando se sabe que é o último toque possível. O diretor de fotografia Robert Krasker, que se especializaria posteriormente em fotografar em grande escala produções épicas, concentra-se nos closes de Celia Johnson, com seu olhar perdido, e na forma como a penumbra e a luz vêm e vão em um sem número de elipses subjetivas que contam a história mesclando recordação, uma confissão silenciosa e uma narrativa que de forma acertada alterna a o ponto de vista.

Se no café, ao começo do filme, acompanhamos a intrusa amiga de Laura, mais à frente, ao recuperarmos esse mesmo momento, já somos suficientemente cúmplices do casal para vermos a mesma ação sob o seu ponto de vista. E méritos devem ser dados ao uso do som, que marca os momentos de drama de Laura e suas difíceis decisões, continuamente, ao som intrusivo do trem e seus apitos, um lembrete informal de como tudo converge para um amor impossível.

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