Os detalhes fazem de ALIEN (79) uma obra-prima

Não vi Romulus, mas voltei a Alien (79), e reparei melhor nessa cena, um exemplo do qe torna o filme tão bom. É quando entram na enfermaria após o organismo que estava no rosto de Kane sumir. Eles entram pra procurar por ele, com cuidado. Prestem atenção na maneira como a cena é filmada

A câmera, estática, observa do nível do chão no início, durante mais de um minuto. O fato de estar baixa já ajuda a determinar tensão, mas é a encenação dos atores que confere mais peso a isso. A calma no desenvolvimento da cena e a ausência de trilha ou som dos movimentos. Não existe pressa

Isso torna o pequeno jump scare tão natural. É um som diegético, integrado ao local de onde a gente observa, no chão – o objeto cai do nosso lado, não sendo apenas um som elevado na trilha para mexer com nossos sentidos…

O ato do Ash voltar e fechar a porta é algo que parece tolo, mas eu pensei ao ver o filme. “Fecha essa porta”. Já com a adrenalina do primeiro susto, a câmera se aproxima das personagens, e isso ao mesmo tempo retira da gente a visão do ambiente como um todo…

A Ripley surge aqui como parte de um arco narrativo verossímil. Ela é forte, mas encontra sempre a palavra mais forte de um homem. Ela parece frágil e indefesa, mas é na ausência dos homens, que essa personalidade vai mostrar sua força. E nesse momento, ninguém da platéia imaginaria…

A iluminação, diferente dos filmes mais modernos, confere àquela tecnologia e àquela nave uma ambientação mais sombria. Mas o que me pega mesmo é o tempo gasto com atos banais, como o pouso da nave no planeta e o dano sofrido ao tocar o chão ou procedimentos simples de manutenção da nave. Tudo ali é orientado ao verossímil, e isso se reflete no ritmo. Sem correrias, sem câmera agitada, sem diálogos em excesso. Em 1979, a relação com a tecnologia ainda era mais solene do que hoje, e isso reflete de forma maravilhosa no filme

O alien surge no ambiente mais iluminado, para que a gente veja todo o horror do nascimento, e lembre do pequeno ser, porque depois disso, vai restar só escuridão e a surpresa de ver o que ele se tornou. Aliás, a eliminação, um a um, da tripulação, se reflete na maneira como Scott filma tudo

Os planos repletos de personagens vão reduzindo, e vamos tendo cada vez mais planos isolados. Antes, há intenção de mostrar mais gente reunida ao plano, mesmo que em segundo plano. O coletivo vai se desfazendo pouco a pouco. A solidão é um perigo e o visual do filme constantemente lembra disso.

Enquanto outros filmes exploram o visual do Alienígena como um prêmio a ser mostrado, aqui ele é constantemente escondido. E eu sei que o mistério em torno dele não faria sentido depois de tantos filmes, mas uma regra que sempre vai funcionar no horror é mostrar menos e sugerir mais. Acho emblemática como vemos closes e pequenos detalhes das mortes de Lambert e Parker, e tudo o que acontece permanece na imaginação pelo uso do extracampo e do som, que é só o que chega a Ripley e a nós.

Não há trama ambígua e é talvez uma das coisas que mais enriquecem o filme. Um organismo mortal dentro de uma nave com 7 passageiros. Ponto. Há discussões sobre relações de classe, perigos da tecnologia, à questões de gênero, violação, mas são sub-textos que se extraem da trama. Ser o primeiro filme ajuda, mas é perceptível como os filmes seguintes ampliam contextos, sub-tramas e adendos na narrativa na tentativa de serem mais “complexos”, enquanto é na simplicidade que ALIEN funciona tão bem porque conversa diretamente com emoções primitivas do público e das personagens

No segundo filme, sabedor que não poderia simplesmente replicar o que Scott fez tão bem, Cameron transforma totalmente a premissa, mas não sem antes homenagear a atmosfera e o visual do primeiro filme em vários momentos, com planos semelhantes aos da nave original durante a viagem dos marines

Da mesma forma, retoma alguns momentos icônicos do primeiro filme, como o detector de movimento nos encanamentos e o lança-chamas. O filme muda o tom, muda a quantidade de alienígenas, mas incorpora elementos sutis que estabelecem uma ligação de reverência ao filme original.

Daria pra falar muito mais sobre ALIEN – e mesmo sobre o segundo filme – mas só queria trazer essa pequena cena que parece um nada ali, no meio do filme, porque ela traz muito, nela, do que faz de ALIEN uma obra-prima

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *