Um dos filmes mais emocionalmente opressores do seu tempo – alguém já disse ser um dos filmes mais violentos dos anos 90, da forma como açoita seus personagens de forma implacável, do começo ao fim, com a negação da emoção.
O Stevens de Anthony Hopkins refugia-se na britância tradição baseada em regras e repetições, inicialmente, como uma forma de manter-se em uma zona de conforto da qual ele pouco conhece por fora, e depois como maneira de proteger-se do maior perigo que poderia lhe ameaçar no estilo de vida servil a que ele dedicou a vida: o amor. E é violento com nossas emoções por não prever zonas de segurança, apesar de flertar com isso ao final, mas nos entregar um protagonista que está preso nas escolhas que fez pro resto da vida, como de forma tão visual exemplifica a cena final.
O grande mérito de Ivory é expressar visualmente aquilo que o premiado romance de Kazuo Ishiguro faz através de seu narrador protagonista. Há duas linhas temporais aqui, e a segunda, ambientada no tempo da narração, é visualmente mais aberta e iluminada: é nela que está um já velho Stevens, animado pela possibilidade de trazer de volta para Darlington Hall a ex-governante, Srta. Keaton, a mulher que seu coração ama e seu exterior nega de todas as maneiras possíveis.
A primeira linha temporal é o passado, onde as sombras de Darlington Hall cercam o protagonista da mesma forma que ele esconde – como foi educado a fazer – tudo o que possa remotamente indicar qualquer nível de opinião, sentimento ou vontade. É a sombra que cobre o rosto de Stevens quando ele recebe a notícia da morte do pai: não é possível ver qualquer tipo de reação ou sentimento naquele momento, e a iluminação apenas reflete o exterior de seu personagem, da mesma forma que a chuva, no último encontro com Keaton, parece expressar as lágrimas que ele intimamente pode até querer externar, mas não consegue.